O rei-máquina: espetáculo e política no tempo de Luís XIV
Palavras-chave:
Luís XIV, rei da França, 1638-1715, Arte - França - Século XVII, França - Vida intelectual, França - Política culturalSinopse
Se os políticos brasileiros não perdessem tanto tempo com a política e pudessem ler, estudar, principalmente refletir, aprenderíam um mundo de pequenas — e grandes — coisas extraordinárias com este livro do francês Jean-Marie Apostolidès, O reimáquina: espetáculo e política no tempo de Luís XIV. Trata-se de ensaio de aguda inteligência, para o qual concorreram, como base, atualizados conhecimentos de historiografia, filosofia da história, sociologia, psicologia, arte dramática, literatura, quem sabe algumas outras mais ciências e artes bem dirigidas pelo autor e congregadas para uma compreensão global — e de extrema originalidade — do Estado absolutista na França, seus fins, seus meios, sua feérica superestrutura cultural.
O leitor brasileiro, figura rara, teve muitas oportunidades, nesses últimos anos, não só de identificar e acompanhar o espetáculo do poder, sua encenação, sua coreografia às vezes repulsiva de tão hipócrita, como também de ver o circo pegar fogo, a farsa terminar em desastre, o luxo virar lixo. Pois agora, com o mergulho no passado e num dos modelos políticos de autoritarismo mais radical que já se viu na Terra, saberá melhor ainda como se monta a mistificação política, como as elites desempenham seus papéis, como interagem as classes sociais na cumplicidade ou na enganação recíproca a que se entregam. Afinal, o jogo muda com o tempo, mas os paralelos sempre podem ser feitos. No século XVII, a diferença primordial é a plena centralização: o ‘corpo simbólico’ do rei domina o país — ou o drama — todo, o texto, a marcação, os cenários, os figurinos, as luzes.
Um vasto ilusionismo ideológico impregna todos os mecanismos do Estado, confunde-o com o Império Romano nos estereótipos éticos e estéticos difundidos, o eu e a sociedade se enlaçam num mesmo superego cênico em que a ostentação do máximo de força — e magnificência — subjuga ora pelo fascínio ora pelo terror. O imaginário de uma nação inteira se acha sob controle estrito do monarca e de sua irresistível fantasia de transcendência (como, três séculos mais tarde, poderá ser perfeitamente modelado pelos veículos de massa: o espetáculo invadirá cada casa, terá a seu alcance todos os olhos e consciências). Assim, a religião e a cultura se transformam em signos do mesmo prestígio social e poderio político.
O Estado absolutista, depois de Luís XIV, prossegue com Luís XV e desaba junto à própria cabeça de Luís XVI: no fundo da cena, e nos bastidores, a burguesia prosperava, a revolução afiava suas armas. Sua superestrutura seria outra, a ilustração a representaria nos museus, nos festivais, no comércio da cultura, pois, como aponta Guy Debord citado por Apostolidès, o espetáculo já não se concentrará no homem, mas nas mercadorias.
Capítulos
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Introdução
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PRIMEIRA PARTE - O Rei Maquinista
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O corpo do rei
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A organização da cultura
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O homem da corte
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A mitistória
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Os prazeres da ilha encantada
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O advento da história
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SEGUNDA PARTE - O Rei-Máquina
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A fixação da imagem
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O funcionamento do espetáculo
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Conclusão
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