O avesso da memória: cotidiano e trabalho da mulher em Minas Gerais no século XVIII
Palavras-chave:
Mulheres — Minas Gerais — História, Mulheres — Minas Gerais — Condições sociais — Século XVIII, Mulheres — Empregos — Minas GeraisSinopse
Ao longo de todo o processo de colonização e de exploração do território brasileiro, um traço comum esteve sempre presente: o lugar ocupado pela mulher foi considerado tão secundário que os livros de história sequer a mencionam Desde a chegada da esquadra de Cabral, as levas de aventureiros e degredados, a luta em defesa das terras ocupadas e os ciclos da economia colonial, em todos os momentos, é como se os homens vivessem sós, em um universo unissexuado. A menção a personagens femininas é a exceção e elas não têm nenhum peso no desenrolar dos fatos históricos.
É evidente que essa ocultação do papel da mulher nem descreve o real, nem muito menos ocorre por acaso. Ela coincide com o período de afirmação do patriarcado e da visão androcêntrica do mundo, então vigente nas metrópoles européias irradiadoras de cultura, e tal ideologia não podia deixar de se refletir na produção intelectual das colônias.
No Brasil, têm sido raros os historiadores preocupados em levantar os véus que encobriram o desempenho feminino, nas fases mais significativas da colonização. Na referida ótica, é como se as entradas e bandeiras, a expansão das fronteiras para o sul e para o oeste, a mineração, se devessem apenas à iniciativa e ao trabalho dos homens, excluída qualquer participação da mulher, além da mera reprodução biológica.
Daí por que um olhar feminista para o passado é, necessariamente, um olhar original e grávido de desdobramentos. E mais, se tal olhar parte de um homem, nós, mulheres, só temos motivos para aplaudir e recomendar, a priori, sua leitura.
Mas Luciano Figueiredo vai mais longe: num exaustivo trabalho de pesquisa bibliográfica, cheirando a pó e a mofo, arrancou de arquivos centenários a matéria-prima para um verdadeiro trabalho de ourives. Como um artesão paciente, ele teceu, peça por peça, uma história paralela à história oficial, ou seja, a história da mulher mineira que, ao lado do homem e muitas vezes em conflito aberto com ele, criou suas próprias estratégias de sobrevivência, inventou novos papéis econômicos e sociais, em uma palavra, abriu para si um lugar ao sol, nos conturbados tempos da exploração do-ouro em Minas Gerais.
Como esta sofrida luta marcou a psicologia e até mesmo o caráter das mulheres, e como sobrevivem, ainda em nossos dias, nas relações de gênero entre mineiros e mineiras, seqüelas só explicáveis à luz daquela conjuntura, eis o que o autor busca mostrar, através de um texto fascinante e rico em ilustrações da época.
É oportuno assinalar que a abordagem de Luciano Figueiredo extrapola os limites postos pela história enquanto ciência. O livro, por seu caráter abrangente, será, estou certa, referência obrigatória nos programas de estudos sobre a mulher, em outros campos afins das ciências sociais, como a sociologia, a economia, a antropologia e a etnologia.
Moema Toscano
Capítulos
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Dados biobibliográficos do autor
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O outro lado do ouro mineiro (Laura de Mello e Souza)
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Nota do autor
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Agradecimentos
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Abreviaturas usadas na obra
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INTRODUÇÃO
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COMÉRCIO FEMININO E TENSÃO SOCIAL
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PROSTITUIÇÃO E DESORDEM
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VIDA FAMILIAR
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O UNIVERSO RELIGIOSO
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PODER, RESISTÊNCIA E TRABALHO
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CONCLUSÃO
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ANEXOS
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RELAÇÃO DE FONTES
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BIBLIOGRAFIA
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