Reflexividade na pesquisa antropológica em saúde: desafios e contribuições para a formação de novos pesquisadores
Palavras-chave:
Etnografia, Antropologia da saúde, Saúde coletivaSinopse
O ofício antropológico é feito de reflexividade. Andamos sempre na corda bamba, entre fazer uma etnografia da bruxaria do ponto de vista da bruxa ou do ponto de vista de um geômetra, seguindo a famosa comparação de Clifford Geertz. Quando entramos no campo da saúde, o trabalho fica mais desafiador. Lidamos com emoções, com corporalidades, com doença, com dor, com morte. Lidamos, além disso, com uma instituição extremamente potente, do ponto de vista não apenas de sua penetração social, de sua capacidade de acolhimento de tudo isso, mas, sobretudo, de sua eficácia simbólica, fortemente enraizada nos corações e nas mentes de todos nós. Refiro-me à medicina e às demais especialidades que gravitam ao seu redor. Ofícios compostos por pessoas que tratam outras pessoas; que mexem nos seus corpos, nos seus espíritos; que criam parâmetros para aferi-los; que oferecem conselhos, drogas; que propõem tarefas. A pesquisa antropológica surge como contraponto necessário para trazer à cena o emaranhado de experiências que compõem essas relações entre os que tratam, olham, examinam e aqueles que são tratados, observados e examinados. Evidentemente, o pesquisador faz parte desse emaranhado, pois o sofrimento e o acolhimento não lhe são estranhos. Os textos que fazem parte deste volume buscam refletir sobre essa posição reflexiva do pesquisador. Não se trata de uma posição necessária, mas, sim, inevitável. Não é uma escolha de quem pesquisa, mas uma consequência inevitável de habitar o mesmo mundo dos que sofrem e dos que acolhem o sofrimento do outro.
Capítulos
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Prefácio
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Apresentação - Tradição e perspectivas sobre a reflexividade em pesquisas etnográficas em saúde
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PARTE I - REVISITANDO TRAJETÓRIAS REFLEXIVAS DE PESQUISA NO CAMPO DA ANTROPOLOGIA DA SAÚDE
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Capítulo 1 - Antropologia, dissonância ética e a construção do objeto
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Capítulo 2 - Por uma antropologia do cuidado: reflexões em torno de um percurso de pesquisa
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PARTE II - PERCURSOS PARA UMA ETNOGRAFIA REFLEXIVA: EXPERIÊNCIAS SUBJETIVAS NO TRABALHO DE CAMPO DE JOVENS PESQUISADORES NA SAÚDE COLETIVA
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Capítulo 3 - Emoções na pesquisa etnográfica: dilemas e desafios de pesquisadoras em campo
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Capítulo 4 - Entre vergonhas, surpresas e perturbações: a carreira de pesquisa em uma instituição de tratamento para o alcoolismo
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Capítulo 5 - Quando a antropologia entra na escola procurando pela saúde: o fenômeno vacinal do HPV à luz da reflexividade em pesquisa
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Capítulo 6 - Uma etnografia encarnada: imagens e identidades corporais de um pesquisador em uma academia de ginástica
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Capítulo 7 - “Ah! Você entende, né?!” Proximidades e distanciamentos na pesquisa com adolescentes em tratamento para anorexia nervosa
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Capítulo 8 - Das políticas públicas às práticas de atenção à saúde das pessoas com hanseníase: experiências e reflexões em torno da negligência
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Capítulo 9 - Inserções em campo e voluntariado no estudo de comunidades terapêuticas no sul do Brasil
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Sobre as autoras e o autor